6.5.06

O MILAGRE

O MILAGRE

Era recém - casada e começava a sentir o peso do cotidiano. Aquele dia igual, a casa silenciosa, o marido que molhava sua toalha ao tomar banho, tudo aquilo fazia com tivesse crises de angustia. A insatisfação era notória no seu rosto. Passou assim a primeira semana, pensando em fugir, em anular o casamento. Também a Segunda semana, onde a casa pequena, os afazeres domésticos, o apartamento de fundos, tudo a fazia ter sentimentos contraditórios com aquele que casara. Tinha saudades do tempo que vivia só para si, na casa dos pais, com a mesa posta e a casa arrumada sem que tivesse que dispender maiores esforços. Na terceira semana, porem, começou ver as mesmas cenas de modo diferente: a janela, a mesa que arrumava religiosamente, a comida que fazia, o sono inocente do marido, os caminhos do bairro, tudo parecia determinado e escrito para ela, como um novo corpo. Tomava banho com mais graça, pintava as unhas, ia no cabeleleiro, sentia ciúmes, cuidava de cada detalhe da casa com denodo. Lembrava com prazer trechos do que já fora vivido e ,a noite, entregava-se com êxtase. Aquele homem fora como um Deus na sua vida, mudando todos os seus planos, inclusive as partes recônditas da sua alma. Numa manha, quando o marido dera uma saída, foi que percebeu, pela primeira vez ao ver um passaro na janela, que seus olhos haviam mudado. Nunca olhara um passaro daquele jeito, como se ele fosse uma revelação metafísica. Onde seria seu ninho? Por que pousara na sua janela? Sim, agora ela percebera o milagre que lhe acontecera. Não adiantava rebelar-se com o criador. E entendeu o provérbio bíblico pela primeira vez com toda intensidade: “macho e fêmea vos criou”. Rezou a Deus em silencio, como só as mulheres sabem fazer, pedindo para que aquele homem nunca a abandonasse. Havia percebido ser inteira... 19/01/2003

Direitos Reservados.

2 comentários:

Marcelino Rodriguez disse...

Testando

Anônimo disse...

Olá, gostei do seu conto, espero ler mais. Bjos!