18.8.09

CHORE POR MIM, ARGENTINA!

CHORE POR MIM, ARGENTINA!

Marcelino Rodriguez


Mandei uma crônica minha pra um dos meus correios de divulgação dos meus textos, lista essa
Com mais de duzentos nomes. Só recebi um comentário, vindo de uma leitora da
Argentina.
Salvou-me o dia.
Aliás, não fosse eu já ter sido publicado em sites do exterior e recebido críticas até da Republica
Dominicana iria duvidar do valor do meu trabalho.
Eu sou muito triste e solitário no Brasil.
Vivo um exílio sem fim. De vez em quando olho o que resta do ultimo livro que
Publiquei impresso
e penso em jogá-los todos fora, queimá-los e isolar-me definitivamente do social brasileiro.
Não sabia o que andou me abatendo nos últimos dias até que parei pra pensar e
e descobri.
Estava me sentindo traído pelo país.
Já escrevi dez livros, ainda que sem apoio de ninguém praticamente no sentido oficial público ou privado; ou seja, claro
Que uma meia dúzia de boas almas me ajudaram (e ajudam) bastante
a sobreviver , mas em geral a população não apóia não.
O brasileiro médio só pensa em si próprio, já me disse uma vez um
taxista desiludido. Quer saber quem é seu amigo? Publique um livro no Brasil e tente vender.
Faça lançamentos. Prepare-se para
“ perder” um monte deles.
E não se trata apenas essa tragédia do egoísmo com relação a literatura, não.
Não sou corporativista nem com os intelectuais daqui.
O bem do outro aqui é desprezado, como se o bem do próximo não fosse também um bem da vida.
Ou seja, para se chegar a algum lugar tem que se lutar contra a corrente, que torce
E conspira pra sua derrota.
Um ser humano relativamente educado já é problemático e pecaminoso; um ser humano
sem letras e sem refinamento é bárbaro.
De nada adianta campanhas para o futuro
se não aculturar de verdade a população e não
esse ensino maquiado que não forma ninguém. Se alguém duvida do que digo, veja a qualidade
de muitos “profissionais” de nível superior do país ,
metidos nas mais variadas falcatruas.
Deus é brasileiro? Sinceramente, não creio nisso.
Não concebo um Deus que não goste de poesia, teatro, música, cinema, leitura, artes plásticas, simetria, pontualidade.
. Agora que
A pessoa que realmente queira fazer algo sadio e
produtivo aqui tem que contar com a ajuda divina,
senão não anda, isso tem. O povo só não sabota os mais famosos, quando já saíram do inferno da sobrevivência.
Ao menos cada vez escrevo menos e não posso deixar de gozar uma ironia interior de saber que com isso
O país fica mais burro do que já é.
Aqui o que tem valor não vale nada.
Pode chorar por mim, Argentina!
E que Deus te proteja, Marcelino!

Comente no blog do autor e ganhe o livro “A Bagagem do Viajante” de José Saramago.