18.7.06

AINDA ONTEM ELA SORRIA

AINDA ONTEM ELA SORRIA
Marcelino Rodriguez

Noite fria. Solidão. Meu Mel viajou. O coração no exílio navega com Barbra Streinsend. Mar calmo, fundo e triste. Pensar que ontem ela me acordou com um sorriso. E que tão funda e feliz foi a impressão de vê-la pela manha que virei o rosto com vergonha que ela visse a intensidade do meu amor. Por que o amor nos mete medo? Sim, eu vi o mundo inteiro naquele sorriso. Queria dizer obrigado talvez. Por que ela sorria?Terá achado graça de ver-me dormindo? Agora tão longe e o mundo tão sem cor. Disse-me que precisa pensar. E se pensar errado, ou pouco, ou muito? Vejo-a além do tempo. Sinto a eternidade com ela. Pode o peito nos trair? Pode uma ilusão ser tão exata?O abraço de Mel, seus cabelos longos no travesseiro. Metáfora de Deus pra mim. E agora jogo xadrez com a solidão. Deixou-me um presentinho. Ela volta. Sim. Sei que volta...Senão de nada vale meus sentidos, nem meus sentimentos, nem meus instintos. Senão toda criação estaria errada e as estrelas despencariam do céu. O sol ficaria negro. Na verdade eu gostaria de dizer aqui o que não posso. O que não cabe.Entre a linguagem e o amor existe um abismo.Ou talvez seja tudo uma saudade...Canta Barbra. Me ajuda sobreviver...Ainda ontem ela estava aqui e sorria...Isso que bate ainda aqui será meu coração? Sim, o biológico. Mas o que há dentro dele vive em outro lugar. Só ela tem a chave. Minha liberdade e minha prisão nas mãos de uma mulher. Ninguém se pertence. Somos todos, maravilhosamente, filhos do amor. 14.07.