6.12.08

PSICANÁLISE NA MADRUGADA

PSICANÁLISE NA MADRUGADA

Marcelino Rodriguez

Engraçado. Ocorreu-me agora que tenho muitos textos com madrugada no título, como se fosse uma sina. O caso é que outro dia topei com uma cena inusitada na cozinha. A culpa dessa cena é da lentidão do judiciário brasileiro, onde parece que os documentos a serem juntados aos processos são levados por burros. Um exemplo. Se um advogado mete um documento em Niterói que fica a trinta minutos do rio de janeiro, o mesmo levará dez dias para chegar ao Rio de Janeiro. Inacreditável? pois é assim mesmo que acontece, e a gente enquanto fica na dúvida se é pra rir ou pra chorar vai tomando esse fumo verde e amarelo de tudo quanto é jeito. O Brasil é um país sobrenatural. Então, como ia dizendo, eu fui na cozinha fazer não sei o quê, quando dei de cara com a cena e me senti abjeto...
Um passaporte europeu com documentos em dia, válido para vários países, se tira em 30 dias. Aqui as três ou quatro contas bancárias que minha mãe deixou ainda estão presas um ano e oito meses depois de sua morte; desnecessário dizer que isso me traumatizou a ponto de eu estar pensando em me aposentar da "civilização" assim que receber o dinheiro. Claro que com o dinheiro preso, que o Estado presume que não se necessita dele, cheguei quase na bancarrota. Só não afundei na lama do desespero porque meu pedigree não permite baixar a cabeça nem se estiver sapateando no vômito. Mas perdi a fé, se é que tive alguma vez, em advogados, cartórios e todos os assuntos correlacionados a isso nesse país. Se não fosse levar 987 anos pra ganhar a causa (você quer rir ou chorar?) eu processava o município e os governos estadual e federal por maus tratos. Somatizei e acabei tendo que ir ao hospital público que na televisão funciona perfeitamente. Cheguei às nove da manhã e fui atendido, depois de já estar com uma estranha coloração azul, as duas e quarenta da tarde. Havia pedido um ansioliticozinho pra ver se a insônia melhorava, mas a médica disse que não poderia me dar porque ela não tinha autorização para dar a receita azul. Me senti ultrajado, enganado, pequeno, quase um verme. Receitas médicas com cores. Algum remédio aí doutora? _ "Nada". E nisso, para voltarmos ao evento na cozinha, quando deparei-me com a cena sórdida, invasiva e inusitada, pensei que era o inferno... Claro que com a crise econômica que abateu-me , fazendo com que eu tivesse que cortar minha água mineral francesa Perrier e algumas das 9 espécies de carne que ponho no meu feijão, aquilo poderia acontecer com o passar dos meses... estranho que não lembro mais o que fui fazer na cozinha. Mas eu vi a cena e fiquei lívido, pálido, perplexo. Alguém já disse que toda tragédia vem anunciada? O caso é que um mês depois que uma devassa me abandonasse, os pisos da casa quebraram do nada. Todo especialista em miséria sabe que pisos quebrados trazem poeira e poeira traz bichos sórdidos como insetos de todo tipo e répteis asquerosos, como largatixas. Eu escrevo para entender o terror da vida, creio. Sei que sou um otimista bizarro, capaz de escrever frases como "até as caveiras estão rindo no cemitério". Sim, meu humor é bem estranho. Você poderia perfeitamente me ver na janela do Castelo dos Adams. E a cena da cozinha eu tinha que escrever pra entender. O que eu não consegui entender é porque a cena e a devassa vinham juntas à minha mente. Nâo consigo entender qual a relação do que vi na cozinha com minha ex-namorada. A cena, digna de um oscar do Trash, eram duas baratinhas transando nos azulejos sujos. Fiquei vermelho ao ver aquilo. Um verdadeiro atentado ao pudor, dentro da minha casa. Pensei em abandonar o imóvel para sempre e fugir para a Patagônia, para o gelo, pra não ser humilhado pelas baratas. Não lembro depois da transa das baratas se surtei ou desmaiei; se as matei ou se fui andar na rua. Foi como um apagão. O que não consigo entender de modo algum é o que tem a ver as baratas transando nos azulejos sujos e minha ex-namorada?

Direitos Reservados

2.12.08

TRABALHANDO A CULTURA NO DIA A DIA

Trabalhando a Cultura no Dia-a-dia
Marcelino Rodriguez

Se eu disser como se pode adquirir uma cultura bastante razoável com uns cinco minutos por dia, as pessoas talvez se surpreendam. Vamos imaginar o seguinte. O livro mais importante ao menos pra essa parte do mundo em que estamos, digamos de procedência Cristã, é a Biblia. Não pense que cito a Biblía, embora seja um crente espiritualista, com nenhuma intenção dogmática. A intenção do meu trabalho é apenas a de plantar sementes de crescimento moral e intelectual, dentro da experiência que tenho na prática da cultura e do desenvolvimento pessoal humano. Vamos ficar ,a título de exemplo , com os livros do Novo Testamento, que em geral os Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João possuem vinte e poucos capítulos. Eu li todo o Novo Testamento dessa maneira: era um capítulo diário. Em menos de um mês você termina um Evangelho. Em menos de dois anos você passa a conhecer todo o Novo Testamento, o que na prática e de maneira subjetiva irá te enriquecer muítissimo com relação a psicologia profunda e ao mundo simbólico do inconsciente. Além do mais, a prática desse pequeno esforço cultural diário irá fortalecer a auto-estima de quem o pratica. As pessoas que possuem a alto-estima mais elevada são aquelas que fazem um esforço consciente para crescer. Citei a Biblía para mostrar a simplicidade do método, porque além de ser o livro mais importante, a Biblía é por si só uma cultura e uma fundadora de culturas. Uma pessoa que viva num país que tem uma crença predominante e não conhece as bases dessa crença é uma pessoa ignorante, egoísta, que só se interessa por si mesma. Aliás, os intelectuais e líderes superiores sejam cientistas ou artistas possuem um conhecimento global e eclético, ainda que externem uma ou outra opinião. Finalizando: quem diz não ter tempo pra ler, mente. Cinco minutos é o suficiente pra que em pouco tempo uma pessoa aprenda bastante coisa todos os dias. Os país e mestres que adotarem esse método a seus jovens estarão plantando sementes extraordinárias para o futuro.
TRECHO DE FORMANDO UM PAÍS DE LEITORES