SOL DA MEIA NOITE
Marcelino Rodriguez
Os meus já se foram. Os que ficaram não são meus porque se traíram. No momento que escrevo isso, faltam exatos sete minutos para a meia-noite. O silêncio tece para mim a sua teia; acolho-o. Hoje pela manhã eu via extasiado num misto de melancolia com uma misteriosa saudade um slide sobre a Noruega. Montanhas e rios formando junto com as construções humanas um poema perfeito. Casas coloridas e opulentas. Fiquei imaginando "que povo organizado esse" e entristeci. E fiquei com a metáfora do sol da meia noite na alma. Aqui a "justiça" está em greve há mais de um mês, ou quem sabe a quinhentos anos. A justiça não tem ao que parece compromisso com o povo. Não imagino aqueles funcionários que abandonaram a população que paga seus impostos reivindincando nada mais que não sejam seus interesses. A miséria de toda ordem cresceu no Brasil. Estamos ilhados, solitários, fragmentados. Dentro de mim o pêndulo oscila entre o desespero e a esperança. Viver também é construir coisas coletivamente, gozar a convivência. Lá no fundo da alma eu tenho saudades da ordem e da felicidade. Acho estranho essa falta de comunicação, de afeto e a agressividade das gentes. O brasileiro na maior parte ainda não aprendeu a apreciar a vida, nem as pessoas. Passei um dia planejando um programa de engenharia humana para esse país. Dará certo? Não sei. Lançarei a semente. Talvez esteja condenado a plantar, também para salvar-me um sentido. São agora meia noite e dezesseis. Sinto-me como um farol perdido no meio do mar. Ou a torre de uma igreja extinta no deserto. Ou talvez quem saiba seja eu o sol da meia noite da cor de um crepúsculo velando sobre o país adormecido. Direitos Reservados
2.11.08
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